segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sobre amizade...

Sou alguém completamente presa aos meus sentimentos. De tudo que vivi, de tudo que senti, até hoje não consegui ser mais objetiva e centrada quando qualquer atitude ou decisão minha envolve qualquer porção de emoção.
Como já é de se esperar, na maioria das vezes tenho grandes dificuldades em lidar com isso. Mas é do ser humano encarar as adversidades da vida. Há tempos deixei de me achar no direito de ser mais ou menos que os outros por conta das minhas contrariedades. E, dentro dessa consciência, percebi que o máximo que podia fazer era desenvolver métodos de encarar e compreender melhor minhas dificuldades.

Há tanto tempo tenho saboreado as mais confusas dores com relação ao meu modo de lidar com minhas emoções, e todas elas voltadas para romances frustrados e mal-resolvidos, que ao me deparar com questões diferentes percebi que minha fragilidade tem uma expansão ainda maior do que eu imaginava.
Hoje procurei pensar em outros amores, outros sentimentos que, de igual maneira, despertam emoções que algumas vezes mudam por completo a dinâmica da minha vida.
Sou e sempre fui apegada (e muitas vezes dependente) das minhas amizades. Aprendi no decorrer da minha vida a enxergar a amizade como algo que te complementa, que te resignifica diante da vida, que vai aos poucos te caracterizando. Ter amigos sempre me soou como ter um chão firme onde eu pudesse pisar.

Meus amigos, aqueles a quem abraço verdadeiramente, foram sempre uma extensão da minha família. Filhos de meus pais, irmãos de meus irmãos, amigos de meus amigos. Nunca foram apenas amigos. Mais do que ter amigos, sempre fui de viver meus amigos, fazer parte da vida deles, inseri-los na minha, compor os meus dias com qualquer porção deles.
Nunca fui de grandes rotatividades no meu círculo de relacionamentos. Amizade, pra mim, é mais que estar amigo. É ser amigo. É algo que vai além do seu estado de espírito, das circunstâncias, de sua predisposição. É mais que querer ser amigo, mas simplesmente ser.
A amizade é como um pedaço seu que nasce em outro corpo.

É como sua imagem refletida em outra pessoa (não falo de semelhança, falo de intersecção, de estar contido no outro e vice-versa). É ter alguém a quem confiar um lado seu que somente você conhece. É abrir-se pra si mesmo por meio de outra pessoa. Um amigo é um Eu que mora fora de nosso corpo.
Mais do que qualquer romance, minhas amizades foram sempre muito intensas, inteiras. Perder um amor desestrutura todo ser humano. Mas a ausência do sexo, faz da amizade uma relação profundamente construída em laços simbólicos. Na troca de confidências, em um ombro firme pra chorar, na força que não se encontra em nenhum outro lugar, na certeza de que com aquela pessoa você vai se sentir melhor essa noite. Sem o tesão pra reforçar, o amor se torna o único responsável por manter a relação viva. Sem recorrer aos artifícios da carne, a amizade contrói um elo tão suave e, ao mesmo tempo, tão enraizado que jamais aquela amizade perderá seu poder diante do nascimento de outraque surgirá no futuro. Cada amizade é como um filho único. Forma uma místura ímpar, particular. E nisso consiste o seu peso.
Sentir esse elo se dissolvendo é como ver um barco em meio a uma tempestade. Não depende só de você pra que tudo fique bem. Depende dos céus, das águas, da resistência do barco, da força e destreza dos demais navegantes.

Entra em jogo uma infinidade de variáveis que, mesmo sem que você saiba que elas existem, elas mudam o tom e a natureza de sua relação. E tá ai uma coisa que, entre tantas outras, realmente não sei lidar: me afastar de uma amizade. Essa sensação de ver escorrendo por entre os dedos toneladas de momentos da sua vida é quase como perder um diário em um lugar que ninguém poderá encontrar. Como se um pedaço de sua vida estivesse, aos poucos, sendo apagado.
Tenho me despedido há dias de uma grande amiga. Mas tenho a impressão que me despedir dela é como estar dando adeus aos meus namorados, à minha aprovação no vestibular, àquela bebedeira desenfreiada que resultou em meses de risos, àqueles rios de lágrimas e lamúrias por ter descoberto o novo amor do seu velho amor, àqueles dias de filme até altas da madrugada, àqueles clubes da luluzinha onde nós podiamos falar mal (e muito bem também) dos homens das nossas vidas, àquelas brigas catastróficas que me transformaram automaticamente, aos tempos da escola, aos reggaes inesquecíveis, às semanas que tiravamos pra não dormir enquanto bebiamos e tocávamos até altas da madrugada na época do São João, aos frequêntes quarenta minutos pendurada no telefone... e à muito outros pedaços de minha história.

Se afastar de um amigo equivale, na minha cabeça, a se afastar um pouco de si. E é detestável essa sensação de despedir-se de si mesmo.
Não há lágrima que alivie, não há palavra que explique. Amigo a gente simplesmente quer ter do lado, sempre. Seja ele o seu melhor e pior amigo ao mesmo tempo. Mesmo que essa despedida já tenha se anunciado há tempos, o último momento, aquele de reconhecer e aceitar a partida, é árduo de digerir.
Talvez seja bobagem minha me preocupar com isso agora. Talvez eu não tenha razões pra pensar nessas coisas. Talvez até nem precise temer tanto por esse momento.

Talvez uma verdadeira amizade nunca se perca por essas razões. Talvez a gente possa até se afastar das pessoas, mas nunca dos sentimentos. E talvez seja romântico demais pensar assim, mas eu ainda prefiro desse jeito.

Texto: Carina Mota

2 comentários:

  1. Seria melhor que tu me me matasse logo!
    Passou um filme! Um misto de sensações,situações,enfim...
    De tudo isso só tiro apenas uma conclusão:
    Saudade é saudade e eu ainda não aprendi a conviver com ela!

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  2. A idéia era justamente a retrospectiva.. Nada melhor que relembrar o que já foi de bom num momento como esses. Parece que lembrar nos aproxima das pessoas...

    Amoo essa sensação..

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