domingo, 27 de março de 2011

Tempestade...

Não há tempo pra sentir. Cansada de escrever minhas dores, cansada de amenizar amores. E a vida real é seca e não há criatividade poética no apressar das horas. Os dias passam como rolos compressores que esmagam o desejo - e a necessidade - de emergir do poço fundo dos compromissos para respirar o ar dos sonhos mais fantasiosos e cor de azul.
Não há tempo de mim para mim mesma, não sobra tempo para que me enxergue na frente da imagem que mal vejo no espelho. Não sou mais eu, sou apenas mais uma. Viro, em 24 horas de 7 dias da semana aquela que faz uso de mim e só, e sozinha. O relógio, agora tão íntimo, é o único que me acompanha, o único que jamais irá parar para me escutar. Ele berra em meus ouvidos: Avante! Avante!
E o coração, desordenado de tempo e espaço, aquele pedaço desejante de todos os seres humanos que fui e vi, carregado no fundo estreito do meu peito, que apertado em si, salta pra fora, agora encontra-se coagido pela frieza das horas que passam. Esse pedaço que lateja meus sonhos, que não separa passado e futuro, que não conhece a emergência do presente, urge por um tempo para poder bater. Meu coração nunca mais parou pra respirar.
A vida no século XXI pede raciocínio, lógica, realidade, metodologia, comportamento regrado e todo meu corpo se esforça para responder às contingências que eu nem sequer consigo enxergar. E minha alma jamais passou dos tempos do romantismo, de quando o amor blindava os corpos contra a objetividade do real, vive ainda submersa do abstrato até no lugar de si onde nunca poderá existir. E em conflito, aquilo que consegue ser concreto anula tudo em mim.
- Tempestades!, eu peço.  -Tempestades! 
Esvoacem meus cabelos, desordenem aquilo de mim que alinhei ao tempo, ao espaço, às horas de chegada e partida. Me faça ser, e não somente estar. Baguncem, misturem, embolem. Preciso de ventos fortes, águas bravas. Tempestade, faça minha estabilidade correr pelo ralo. Soca o tempo, mata as horas, asfixiadas pelo meu descompromisso, comprometido em viver. 
Um tapa no peito e despertarei meu coração. Livre das ondas das horas, longe do que em mim e pra mim programa espaço e tempo. Coração, inocente centro do meu mundo, que não estabelece regras, que acredita em amor (o único pedaço de mim que ainda sobrevive acreditando), esfola esse peito frio e grita por reconhecimento. Bate e sufoca, se faz imenso a ponto de escorrer em mim, no mundo. 
Preciso gritar, te por pra fora, sentimento acuado. Socorro, Senhorita Fantasia. Preciso que me busque num quarto branco e arredondado, sem pontas, sem portas. 
Não há começo e nem fim nesses dias que se emendam na correria de realizar tudo para fora. Realiza-se em mim, vida irreal. Me deixa acreditar em mentiras, preciso me arriscar. Injeta paixão em minhas veias, anula a morfina e faz minhas vísceras tremerem de vontade de sentir. 
Bate em mim, coração. E aceita que és feito de vida que eu aceito que tu és feito de mim... eu, sou feita de nós, sem jamais ter hora pra acabar!

Texto: Carina Mota

3 comentários:

  1. Inquietude em poesia.
    Vim aqui e gostei muito do que vi.

    Leio-te também no twitter.
    Abraços!

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  2. Nossa esse texto falou muito comigo! acompanho no twitter suas postagens!

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E aqui, qualquer carinho é bem-vindo =D