domingo, 24 de outubro de 2010

Amor em despedida


Num dia comum, simples e sem perspectiva de surpresas, esbarramos numa vontade recíproca de descobertas. E descobri como ficar na pontinha do pé enquanto beijo na boca, faz com que eu me sinta como uma adolescente daquelas comédias românticas americanas. E feliz! Nós vivemos dias lindos submersos em risos frouxos e desejo de continuidade. Tinha vontade de sentir seu cheiro ao meio-dia, às 17hs e sempre, sempre das 20hs até o sol ter que nascer. E nossas noites longas e melódicas, ao som de Nando Reis, faziam de suas palavras belas poesias. E naquele segundo eu te amava, amava loucamente, como se jamais pudesse amar alguém assim. Não é porque nosso relacionamento meio casual sem data de início nem término - porque não havia acordos entre nós - era meio indefinido que ele se fazia menos sólido.
E hoje você tenta me dizer que brincamos de amar. Bobagem sua. Bobagem se fazer crer que não havia compromisso nos meus torpedos diários te dizendo que sonhei com seus beijos. E não adianta me falar que foi de brincadeira que cantou tantas vezes aquela minha música predileta do Los Hermanos.
Vivemos um belo romance. Histórias de amor não precisam ser eternas para ser bonitas. Era o que você me dizia a cada vez que seus olhos brilhavam enquanto você colocava aquela mecha teimosa de cabelo pra trás da minha orelha, e quando alisava cada um de meus dedos dizendo que entre os seus eles se faziam perfeitos.
Não faz assim, não banca o raivoso iludido que esperou mais do que recebeu. Fomos cúmplices, dividimos não só os cobertores, mas também os medos, as dúvidas, as agonias. E todas enxarcadas de vontade de ser feliz em dupla.
Chorei por longas horas antes de te deixar. Como queria que você coubesse em mim, que essa imensidão de carinho me fosse própria e compatível com o que eu tivesse pra te oferecer. E lá estava eu, mais uma vez, me culpando por não ser boa o suficiente pra alguém. Sofri tentando crescer pra você, pro grande homem que eu via brilhar nos seus olhos claros, me questionei desde o minuto em que me raptou um pensamento que nem sabia que seria seu.
E enquanto as lágrimas caiam eu lembrava com clareza de cada instante em que meu riso enjoou de tanto aparecer. E lembrei de como era gostoso o cheiro do teu casaco super charmoso em dias de frio. E de como andar de mãos dadas me parecia a única forma de caminhar do teu lado. E como as músicas românticas pareciam mais românticas pedindo que eu devorasse o carinho que tu me entregavas. Lembrei das nossas conversas sérias, das nossas horas de palhaçada, das nossas pernas que se cruzavam quase que por acidente o tempo inteiro, do suor das nossas mãos que não se desgrudavam nem sob ameaça, da minha mania de alinhar os fios da sua sombrancelha, do peso do seu beijo em minha boca, das canções que usava pra me pedir amor, das declarações indiretas que te fazia e que você surpreendentemente captava muito bem. Lembrei de como os dias foram mais felizes, as luzes mais brilhantes, o céu mais azul e o ar tão puro e leve que me fazia flutuar na saudade do teu gosto.
Chorei muito antes de perder você, chorei quando percebi que não era e jamais seria sua, chorei por achar injusto que a vida não me permitisse ficar perdida pelo teu convite de felicidade. Tão lindo, tão especial, tão distante.
Te ver me tratar com desdém é inscrever que nosso romance foi uma disputa, que foi pra você apenas um desafio que, não conquistado, foi desqualificado pra não provocar desordem. A culpa tem que ser minha, a dor também. É isso? Não se desmancha diante de mim, não faz com que eu ache que você foi mais um pseudohomemapaixonado que cruzou o meu caminho. Tenho olhado pra você com interrogações tremendas, te vejo passar distante e me pergunto cadê aquele cara bacana que me revirou por dentro, que me disse coisas que sempre esperei ouvir pra sentir que era hora de mudar. Pior que perder um amor é sentir que alguém que você teve na verdade nunca existiu.

Texto: Carina Mota


3 comentários:

  1. Menina, tu escreves com clareza e exatidão, adorei ter encontrado este texto nesta tarde quente, fez-me pensar melhor sobre tantas coisas. Belo blog.

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  2. Adorei o detalhe da pontinha do pé... Beijo adolescente!

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  3. Você é ótima, adorei esse texto. Essas duas frases resumiram meus ultimos meses: "Chorei por longas horas antes de te deixar. Como queria que você coubesse em mim. Chorei muito antes de perder você, chorei quando percebi que não era e jamais seria sua. "

    Pode me esperar sempre por aqui, ahuahua

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