quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tão implícito...


Entrou naquela sala como quem não trazia nada além de um "Bom Dia" engasgado de ponta a ponta. E sorriu por último para quem de fato te interessava, tentando demonstrar o contrário. Mas foi na cadeira mais próxima, naquela que a colocava de frente para os olhos mais cheios do que dizer, que ela se sentou. E rabiscando em folhas brancas, para fazer algo paralelo ao papo furado, tentou encobrir a vontade de passar o tempo respirando aquele ar que tinha um Q de romance guardado na gaveta.
Quando esticou a mão direita e a trouxe de volta para si, deixou escapar um bilhete humidecido pelo suor da ansiedade. Era um pedaço de papel nada despretencioso, cheio de mensagens implícitas, com mais entrelinhas do que escritos, com uma imensa reticência coberta por uma interrogação precedida por um "Quer sair pra comigo hoje, ou é tarde para um convite que é terreno pra tantas possibilidades". Olhou nos olhos, engoliu a saliva que já afogava a fala e, antes de ouvir um não, levantou-se com o esforço de quem carregava o mundo e virou-se, detestando a si mesma como nunca houvera sentido. Xingou zilhões de palavrões mentalmente, falou tanto para si que quase não conseguiu escutar, quando no seu primeiro passo para além da porta, uma voz de quem sorria lá de dentro entoou "Pra qualquer lugar é sempre tua hora". Desafogou o peito e sorriu sozinha. Mal olhou pra trás, e já sabia que ali brotava um olhar que lhe abria as portas de um mundo que morava no cantinho daquele peito aconchegante. E se amou novamente, como buscava sentir para todo dali em diante.

Texto

3 comentários:

  1. Estou sem fala e perplexa diante de tanto sentimento provocado por esse texto que acabei de ler. Mal respiro e me sinto completa e absurdamente envolvida pelo que está contido nessas palavras que me levaram a vagar por um lugar estranho dentro de mim, talvez pouco habitado, quem sabe ainda desconhecido. *Amei amiga!

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  2. adorei muito;
    serei leitora
    durante
    zilhoes de tempos:)

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  3. Sofrimento, dor. Lembro-me de Abílio Junqueiro, em suas sábias palavras "A dor eleva, a dor exalta, a dor diviniza." Parabéns Carina, continues a escrever, mesmo que isso contenha uma pequena dose de dor, nada melhor para aliviá-la do que uma "conversa com as palavras".
    Atenciosamente,
    John

    Um Martini e um Amor. Com azeitona, por favor.
    http://www.mandamaisum.blogspot.com

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