segunda-feira, 14 de junho de 2010

Diária? Mennte!

Texto escrito especialmente para o Diária☆Mennte, meu blog intimista, tão abandonado.



Engraçado... quando criei esse blog tinha em mente construir um espaço onde eu pudesse, dia após dia, falar sobre mim, sobre como me sinto, sobre o que tenho feito e deixado de fazer. Queria ter um "ouvinte", mesmo que tão virtual, mesmo que tão passivo. Queria algo [na verdade alguém] que pudesse me permitir desabafos, comemorações, confissões ou coisas tão íntimas e humanas que fazem parte do nosso cotidiano. Queria contar um sonho impactante, uma vontade repentina, um rompante que mudasse meus rumos, um fato que desecandeou sentimentos e perspectivas. Queria história. Infelizmente esse espaço não deslanxou. E não falo isso em aspecto público, de acesso ou de seguidores. Falo isso voltando-me completamente para mim mesma. Falo do meu "compromisso", que era no fundo uma vontade, de poder construir um pouco de mim aqui dentro. Percebi, enfim, o quão difícil é não se esconder por trás de palavras que soam bem, de um personagem que todos querem se identificar (ou acabam se identificando por acidente) e de uma história atraente, de um conto romântico, de um final feliz ou trágico-poético. Falar sobre o meu lado humano, de modo tão puro e natural foi sempre tão comum lá na minha agendinha de 1997, capa vinho com foto do ex-namorado da infância que eu sequer lembro porque gostei. Mas aqui isso não funcionou. Não por medo de exposição, não por conta da sutil imposição que me fiz, sem intenção alguma. Mas por medo do contato comigo mesma, e não com a pseudointelectualescritorablogueira que posta aquilo que gostaria de ser, viver ou falar.
Esse aqui seria o espaço da minha realidade, o espaço daquela garota-mulher que habita as profundezas da minha existência, que move minha vida de um lado para o outro, que constrói o meu jeito de viver no mundo. Mas sei o quão terapêutico é conversar consigo mesmo, o quão fortalecedor, enriquecedor e motivador isso é, mesmo que o contato impactue e enfraqueça, empobreça e desmotive de início. Sempre vale a pena se futucar, se descobrir, desenrolar o emaranhado de fios que tecem a nossa vida. Mas a vida não é apenas um desvendar de mistérios. E hoje eu quis vir aqui, nua e crua, sem desculpas sobre afazeres diários, sobre ausência de inspiração ou qualquer tapa buracos do tipo. Pra ser de verdade não é preciso oportunidade, é necessário apenas e somente ser. Não temos como fugir do viver-a-nossa-vida. Não há chances de deixar de existir, ainda que se morra. Porque isso tudo que achamos tão complexo - e que de fato o é - é 'simplesmente o acordar-todos-os-dias, o ir-ao-trabalho/faculdade/escola (ou lugar nenhum), o apaixonar-se e desapaixonar-se e até o próprio pensar sobre essa vida.
Ouvindo aqula música nova (e linda!) da Sandy (aquela garotinha das canções adolescentes que agora resolveu cantar como mulher a sua maturidade meio melancólica), eu resolvi me permitir baixar a guarda. Senti que era preciso o dar-me conta sobre a minha vida, sobre o meu jeito de sentir a minha vida. E quis então aceitar os meus românces angusitantes e agunstiados, as minhas relações destroçadas, os meus desejos e planos frustrados, os meus arrases e aquelas feridas mais profundas. Quis me olhar por dentro, quis olhar pra dentro de mim e ver onde se escondem os meus fantasmas. Quis pensar sobre as minhas fraquesas com franqueza. Quis me amedrontar de verdade, aturar o meu instável modo de ser forte, quando na verdade sou falha, humanamente passível de erro. E não é pessimismo, não é um formato emo de encarar a vida. Não quero deprimir, desistir, esmurecer. Quero me conhecer. Saber onde começo e entender até onde tenho ido pra poder me superar. Cansada de achar que já fiz de tudo, que não há mais jeito pra meus fracassos, quero olhá-los como ponto de partida. E isso também não é um texto ultra-otimista de quem vai revigorar-se completamente quando digitar o ponto final. É uma conversa intimista, um diálogo secreto, cheio de questões indecifráveis, recheada de propostas que não sairão daqui, mas que precisam tornar-se conscientes.
Preciso apalpar minha vida, parar de analisá-la de fora, descontextualizadamente, de forma crua e severa, como quem só busca acertar. Minha compulsão pela perfeição me fez errar muito, porque eu só buscava o acerto. E tudo, qualquer coisa que escapava a isso era absurdamente julgada por mim.
Fiquei afim de mais, de ampliar meus métodos, de afrouxar meus sonhos e viver conforme a música. Quero aceitar minhas mágoas, mesmo que eu jamais as sare. Quero entender que algumas questões a gente leva pra sempre, mesmo que não mais sofra tanto. Quero não mais engolir meus choros, e jorrar lágrimas até quando elas pedirem pra liberar o ar preso na garganta. Quero sentar um pouco, como quem pára pra reunir forças pra prosseguir na caminhada. Quero conhecer melhor meus monstros, entender melhor o porque de alguns fantasmas permanecerem tão vivos dentro de mim. Não quero mais ignorar a vida, achando que ela precisa ser uma sucessão de progressos e acertos. Quero mesmo - e preciso disso - adotar meus filhos desajustados, meus frutos podres, me reconhecer como um ser que é resultado de desajustes e sincronias.
Sou meu bem, mas também sou meu mal.

Texto: Carina Mota

Um comentário:

  1. Depois de um tempo, aqui retorno, talvez para cumprir minha promessa íntima de te seguir ou talvez apenas pelo prazer angustiante que tenho quando leio teus textos.
    Certo que me surpreendo quando ao fim da leitura percebo a franqueza com que se expõe para mundo (ou talvez apenas para os que por aqui passam) e concluo que tem muita razão sobre todas as afirmações que faz sobre as coisas da vida, apesar de falar de sua própria!!
    Parece que teus medos, tuas angústias diz respeito a muitos e te ler tem um efeito meio terapêutico!!!
    Era só para registrar!
    Faz-me bem passar por aqui!

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