terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Da [e dá] saudade.

A saudade nos enche de espaços vazios que incham no nosso peito. Nos enche de rostos virados pra trás, de lembranças maquiadas de momentos felizes que parecem ainda mais felizes depois que acabam. Elas colocam risos em fotos, e amor nas músicas que sempre ouvimos sem sequer notar que falavam de amor. A saudade nos fala do que não dissemos a tempo, do que ficou para acontecer agora, nesse tempo-hoje em que recordamos o 'inacontecido'. 



A saudade é o não-dito latejando na ponta da língua, é o resto de amor no fundo do pote, que deixamos de raspar com o dedo por medo de nos melecar com o excesso que borra roupas, bocas e mãos, manchando tudo que tocamos, deixando marcas para serem tocadas depois. A saudade é a estrelinha saltando no céu-da-boca, porque não pode pular para o mundo quando nasceu. É aquele abraço que até hoje aperta o corpo, a mordida que ficou marcada na pele da memória, o sabor que quisemos provar a mais e tivemos medo. É o cheiro de amor que ficou naquele lençol amassado.

A saudade, perversa e singela saudade, traz pra perto que não mais está aqui. E embrulha cheiros e gostos pra que levemos para onde a gente for. A saudade não nos deixa esquecer o que gostariamos de ter lembrado em outro momento. Ela é, por diversas vezes, o amor que mandamos pelo correio e acabou por chegar atrasado. É a correspondência de ontem nos mantendo ligados à semana passada, mesmo quando a seguinte chegar.

E a minha saudade, por fim - que ironia - me enche de não-palavras ou de sentimentos indizíveis que não podem explicar como estar sem você, no fundo, é estar sem mim.

Texto: Carina Mota

2 comentários:

  1. Que negócio gostoso de ler.. Que saudade boa é essa Cary?

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  2. Eitahhh coisa boa dimais da conta
    é sentir saudades, a prova de
    um sentimento q ainda está vivo dentro
    do peito....

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E aqui, qualquer carinho é bem-vindo =D